Meus amigos como vão!
Desta vez foi quase...
Isso mesmo!
Quase que vocês ficam sem essa minha redação de 2016!
Todos os anos participo da Olimpíada de Redação de Jundiaí, esse ano na sua 12ª Edição.
Meu ritual é simples: como o texto tem de ser inédito, vejo o tema, faço a composição e as correções (sempre acabo deixando algum erro passar, isso é de praxe), depois de enviar para o concurso, copio o original para meu pendrive e aguardo o resultado.
Sendo premiado ou não (ainda não tive esse prazer), acabou fazendo a divulgação da redação, só que neste ano, para meu azar, meu pendrive "deu pau" e perdi o arquivo original.
Tentei de todas as formas através do programa Recuva, que já me salvou noutras vezes com um milhão de fotos perdidas, recuperar este documento apagado do meu micro, mas não teve jeito!
Cheguei a conclusão que havia perdido o texto e mesmo que eu eu quisesse compor outro parecido, os amigos que escrevem sabem, jamais ficaria da mesma forma.
Minha última alternativa foi pedir a gentileza da direção da Olimpíada, que fica a cargo da Biblioteca Municipal de Jundiaí, onde uma funcionária esplêndida conseguiu autorização da direção e me enviou agora a pouco uma cópia do meu arquivo original, imaginem a minha cara de felicidade e a gratidão que eu senti...
Por sorte, hoje mesmo tenho que ir dar um passei na Biblioteca citada, pois eu não ganhei, além da grata satisfação de participar, mas minha filhota Nicole ficou em 11º lugar em sua categoria, recebendo um dinheiro para poder comprar seus presentes no Dia da Crianças e ainda vai sobrar para um par de coxas de Peru para o Natal! :)
Vou aproveitar este meu passeio por lá para tentar conseguir encontrar a alma caridosa que me auxiliou e lhe dar um merecido abraço. Graças a elas, eis a minha participação deste ano, onde discorri sobre pessoas que têm mais idade, mas que ainda têm muito de bom para contribuir com o nosso mundo!
Abraços renovados para todos!
Robert de Niro no filme Um Senhor Estagiário
Um velho
Quando olho no
espelho, nesse dia tão especial, vejo um velho que já foi jovem faz
muito tempo, memórias demais para recordar.
Não sou pobre,
talvez esteja rico, não foi fruto da sorte, mas do trabalho, algo
que começou num sonho e ainda não terminou, ainda não, possuo
estórias inéditas para escrever nesse longo livro da vida enquanto
estiver aqui entre os meus.
“Os meus!”
Se foram meus,
esses seres que em alguns momentos me cercam, hoje já não mais o
são, pois na maior parte do tempo é na solidão que passo meus
dias, por mais atividades que ainda consiga desenvolver.
Levanto cedo e ao
contrário de outros senhores que vão passear no parque ou fazer
caminhada, minha jornada me leva direto para minha empresa, que tem o
nome da minha finada e amada esposa. Gerencio com maestria todas as
problemáticas que surgem, desde a produção dos alimentos que
fazemos até o simples lidar com contratação e demissão de
funcionários.
É claro que não
faço tudo isso sozinho, tenho uma grande equipe de funcionários e
colaboradores, entre eles muitos familiares que criticam
constantemente meus atos e por vezes cochicham pelos cantos, num tom
inapropriado, já que se esquecem de que a velhice não me tirou a
audição, que eu deveria curtir a minha aposentadoria passeando nos
parques, fazendo caminhadas, essas coisas que os velhos fazem muito
bem…
Eu imagino o que
se passa pela cabeça dos meus familiares: minhas ideias são
antiquadas, a minha maneira de lidar com funcionários nos dias
atuais não é mais aceita pela maioria das indústrias e
principalmente, a minha opinião forte e decidida os impede de
transformar essa empresa, que foi gerada através do amor, numa outra
qualquer que potencialize os lucros e nada mais.
Muitas vezes
sinceramente eu me pergunto se eles ainda sabem do que se trata o
amor, de como é se utilizar desta ferramenta mágica e infinita para
tomar as decisões, da alegria estonteante que se sente ao fazer a
escolha correta. Se a bondade saiu mesmo fora de moda, então sim,
estou velho demais para esse mundo e seus novos conceitos, mas como
não aprendi em nenhum momento da vida a desistir, vão ter que me
aturar enquanto eu for capaz de continuar tentando lhes ensinar que a
melhor maneira de conduzir um negócio não é através da frieza de
um sopro de outono, mas ainda da leve brisa primaveril que aquece os
corações. Se eles vão aprender ou não, essa já é outra
história, a minha parte eu tenho o dever de fazer bem feito, de
continuar com a minha atitude exemplar.
Eu tentei deixar
que eles conduzissem a empresa do seu modo, ficando somente como um
conselheiro administrativo, mas quando percebi que queriam me
transformar em somente um símbolo que não tinha poder nenhum de
decisão, mais parecendo um mero enfeite na parede do escritório,
fiz novamente valer a minha vontade de maior acionista e retomei o
comando antes que a empresa perdesse a sua verdadeira marca, tão
difícil de moldar através dos anos.
Percebi que só
queriam me usar, tal um fantoche, numa decisão simples de demissão
de um velho funcionário da empresa, que por se ausentar durante
alguns dias para ir enterrar um dos seus filhos que morreu em outro
estado, recebeu no seu regresso um aviso prévio de trinta dias. Como
não fui consultado, interferi diretamente no departamento de pessoal
e converti o ato de demissão numa advertência de que no futuro esse
senhor informasse a empresa de fatos que o levassem a cometer faltas
no trabalho que fossem entendidas como injustificadas.
É lógico que
este funcionário foi movido pela dor de perder um ente querido da
sua família, um “dos seus”, é totalmente compreensível, mas
alguém de coração mais duro do que o meu entendeu que não,
concluindo que o castigo pela insensibilidade de não informar ao seu
empregador que uma morte o deixaria longe por alguns dias, fosse a
perda do seu emprego.
Será que fui
errado em intervir? Será que foi incorreto da minha parte retomar
meu lugar na direção da empresa?
Tenho certeza que
não, eles têm muito ainda para aprender com esse velho…
E hoje enquanto
olho neste espelho, neste dia tão especial, onde a minha casa
geralmente tão silenciosa se encherá da alegria dos meus netos e
bisnetos, onde “os meus” virão em peso para comemorar meu
septuagésimo quinto aniversário, eu deveria ver um reflexo mais
feliz no espelho, mas ao contrário disso vejo um rosto cansado,
marcado, sofrido, o rosto de um velho solitário.
Já me convidaram
para morar com eles em outros lugares, outras cidades, outros países,
mas é aqui que chamo de lar, nessa pequena cidade que me escolheu
adotar onde sou feliz tal um filho da terra. É nessa cidade que
trago na memória todos os sorrisos que dei, todos os desafios que
enfrentei, todas as pessoas que amei, tudo aquilo que infelizmente já
se tornou passado.
Sair daqui
significa abrir mão disso tudo que é o combustível que me mantém
vivo.
Seria maldade
minha pensar que “os meus” conhecem esse meu segredo?
É claro que
estou equivocado, eles me amam, vejam vocês, lá estão eles
chegando, entre risadas e cheio de pacotes coloridos embrulhados.
Tenho certeza que para eles eu não sou um fardo, sou algumas vezes
um pouco chato e turrão e talvez independente demais para a minha
idade, assim eles pensam.
Na verdade sei
também que valorizarão mais meus exemplos de conduta quando eu não
mais estiver entre eles, quando eu estiver num outro plano, mas esta
não é uma decisão que cabe a mim e enquanto me couber continuar
escrevendo minha longa estória, dia após dia, tolos serão eles se
não a lerem atentamente e de lá não retirarem importantes lições
pautadas na sabedoria de um velho.