Guardo todas, um dia vou construir um castelo...
Fernando Pessoa
Na minha vida passei por muitas coisas, que se tornaram importantes lições.
A melhor delas?
Aprender a levantar!
JGCosta
Clique na imagem para ver de onde ela veio!
Um salto
O
que me afastava do sucesso não era um degrau, eram vários, com nomes, sobrenomes
e apelidos ridículos criados em minha mente, tentando diminuir a inferioridade
que me assolava.
Depois
de anos eu ainda aparentava ser invisível, desprezível, indiferente,
antipático, e mais alguns predicados que não ouso mencionar. Tudo que eu queria
era um lugar ao sol, a chance de progredir, mas toda vez que eu dava um passo a
frente, vinham-me os tropeços causados por esses seres míseros, me mandando,
tal num tabuleiro, para duas casas atrás.
Recordo-me
bem do meu maior voo, embalado num projeto de um viaduto que levei semanas para
concluir, onde pensei em cada detalhe, refiz cada fórmula, testei todas as
possibilidades. Consegui convencer meu chefe de que o trabalho era único, algo
notável, passei para o próximo passo, envolvi o gerente com todas as garantias
de que, desta vez, não haveria erros. Ele me levou pessoalmente para nos
reunirmos com o diretor executivo. Fiz uma brilhante apresentação que encantou
aos dois, ficaram boquiabertos com todos os recursos que expus, a economia do
negócio, a sustentabilidade, foi inevitável: marcamos com o presidente da
firma.
Uma
semana depois, lá estava eu defronte ao senhor mais baixinho e feio que já
havia visto na vida, com uma carinha de anão da Branca de Neve, para lá de
teimoso. Pedi que filmassem o meu desempenho, creio que nunca havia sido tão
brilhante como até aquele momento, nenhuma falha, um mínimo tropeço no
linguajar, passei uma hora explanando todos os detalhes do projeto. No final
fui aplaudido e ovacionado de pé pelo empreendimento que eu sugerira, que na minha
mente seria um marco na história da empresa. O único que não se deu nem ao
trabalho de levantar foi o dublê de anão. Bateu duas palmas e foi embora, levando
meu sorriso com ele.
Descobri,
após alguns dias, depois de todos aqueles “não foi desta vez cara”, que eu não
precisava de um projeto idiota sobre um viaduto, almejava mesmo um arranha-céu,
de onde pudesse dar um salto rumo a minha paz de consciência, deixando para
trás o gosto da derrota que amargava minha boca. Seria rápido e indolor,
deixaria uma simples carta de despedida para a família e fim, somente um ser
lamuriante a menos no mundo.
Demonstraria
nessa carta com toda a clareza quais foram os responsáveis por meu ato suicida,
todos aqueles incompetentes do escritório que só visavam lucros para suas
contas gordas, ah, isso eu deixaria sublinhado em letras garrafais.
Mas
antes de seguir em frente nessa noite, preciso de uma bebida, é tarde, sei que
todos dormem lá em casa. Vou
atacar meu próprio barzinho, não vou correr o risco de encher a cara, desabafar
com um garçom qualquer e acordar no outro dia, ainda vivo, com uma tremenda
ressaca.
Vou
aproveitar para ver o meu último ato, aquela apresentação estonteante, enquanto
tomo um bom conhaque... – Mas o que é que isso? Conheço essa letra...
“—Pai, me desculpa a sinceridade nesse
bilhete, mas você não é desse jeito, como parece nesse vídeo. Você sempre fala
de uma forma mais simples, devagar, com carinho. Está mais parecendo um
executivo arrogante. Se eu fosse seu chefe não lhe daria a promoção...”
Normalmente
eu lhe daria umas palmadas, de brincadeira, é lógico, por essas observações,
mas ele desenhou uma carinha sorrindo depois da última palavra, esse é meu
filho...
E
quem é que me conhece melhor do que ele, não existe outra pessoa nesse mundo,
nem mesmo sua mãe. Assisti ao filme novamente e novamente, e ele está certo,
aquele não sou eu, somente estou atuando um papel que não me pertence. Bom, só resta
fazer mais uma coisa...
Aqui
estou eu de novo, mais um dia de trabalho defronte o computador e sorrindo
feito bobo. O presidente me chamou agora a pouco e só me pediu para que
simplificasse um pouco as coisas, tornasse meu projeto um pouco mais natural,
mas que este era de fato formidável e seria inserido nos principais trabalhos
da empresa. Nunca tinha percebido o quanto ele é amável!
Pois
é, ainda bem que o meu melhor amigo me alertou num bilhete que é na
simplicidade das coisas que encontramos a verdadeira fórmula do sucesso. Nesse
dia em questão aprendi que não precisava superar ninguém que estivesse no me
caminho, a não ser eu mesmo.