Tive que dar uma melhorada no texto abaixo, para que o mesmo se adaptasse à um concurso literário específico. Como foi somente depois de ler profundamente nas entrelinhas que descobri a necessidade de um texto inédito, compartilho com os amigos o resultado da modificação.
Meus mais sinceros abraços renovados!
===============================================
Então é Natal...
Existia uma bela escola onde estudavam os alunos mais
simples daquela cidadezinha do interior paulista, que não tinha mais do que 30
mil habitantes na época. Ela fora construída no topo de um morro, inteiramente
de tijolinhos a vista, e destoava dos casebres simples e na sua maioria de
madeira, que a cercavam por todos os lados.
Alguém que olhasse de longe diria que ali se encontrava um castelo com o povoado ao redor, mas creio que se pensarmos bem e fizermos uma simples analogia, poderemos constatar que essa visão não fugia muito da realidade, afinal, onde se concentrava antigamente toda a cultura e riqueza de um povo, senão atrás das muralhas de uma fortaleza, que no nosso caso distinto abrigava o saber.
Alguém que olhasse de longe diria que ali se encontrava um castelo com o povoado ao redor, mas creio que se pensarmos bem e fizermos uma simples analogia, poderemos constatar que essa visão não fugia muito da realidade, afinal, onde se concentrava antigamente toda a cultura e riqueza de um povo, senão atrás das muralhas de uma fortaleza, que no nosso caso distinto abrigava o saber.
Provavelmente esse estabelecimento de ensino ainda existe ou
repousa pintada num quadro qualquer ou ainda na lembrança de algum morador da
região...
Nessa escola, desde o ano de 2000, a diretoria era
comandada pela Sra. Berta, considerada como uma pessoa extremamente rígida,
principalmente pelos alunos que a visitavam, após realizar as suas costumeiras
travessuras em salas de aula. No fundo era uma pessoa doce, que criara uma
imagem mais dura para impor respeito àquela escolinha da periferia, mãe e avó
dedicada, voluntária em inúmeros projetos sociais do município.
Como em todos os finais de ano, incentivou aos professores
das classes que correspondiam ao primeiro e segundo ano do ensino fundamental
que, próximo à data natalina, solicitassem aos alunos a confecção das famosas
Cartas para o Papai Noel. E como sempre, dezenas de cartas das mais variadas se
acumularam na sala dos professores, numa mesa que fazia divisa com um presépio
maravilhoso, que era confeccionado peça por peça e montado nos primeiros dias
de dezembro, por um simpático senhor que já iremos conhecer.
Depois dessa primeira fase de recebimento das cartas,
seguindo uma regra, escolhiam entre elas àquelas que achavam serem as mais
criativas e providenciavam a visita do Papai Noel em suas residências, papel
esse sempre desempenhado pelo Sr. Osmar, um senhor aposentado do bairro onde
estava instalada a escola, que também fora um exímio marceneiro. Bom, ele ainda
o era, pois a aposentadoria não lhe diminuíra a habilidade em tornear e grosar
as madeiras, já que todo o ano renovava ou acrescentada novos integrantes ao
belíssimo presépio da escola.
Nesse ano de 2010, faltando apenas duas semanas para o
Natal, a professora Isabel do primeiro ano A levou ao conhecimento da diretora
uma das trinta cartas que recebera e, segundo ela, deveria ser a escolhida de
sua classe.
A diretora, que dada a sua postura profissional descrita
anteriormente, não assinava abaixo de nada que não tivesse minuciosamente lido
anteriormente, tomou a carta para si, onde leu a seguinte narrativa:
“Oi seu Papai Noel!
Meu nome é Marcos, mas me chamam de Marquinhos, pois sou
magrinho e pequeno demais para os meus 9 anos.
Estou escrevendo essa cartinha somente porque a professora
mandou, creio que pode até valer nota pela criatividade, mas acho que não vai
adiantar nada, pois sei que não existe nenhum bom velhinho que anda por aí,
voando de renas e descendo por chaminés. Existem sim boas pessoas que se vestem
de vermelho e tentam levar um pouco de alegria onde ela raramente existe,
através de brinquedos e de uma enxurrada de balas...
Falando nisso, já que estou fazendo a carta mesmo, bem, na
verdade estou ditando a carta, não sei escrever muito bem ainda, minha prima
Lucia é quem está fazendo isso por mim, pois ela me deve um favor, coisa de um
namoro escondido que eu prometi guardar segredo... Mas então, como eu estava
falando de presentes, não custa nada dizer que eu gostaria muito de ganhar uma
bicicleta. Não precisa ser de marcha muito menos de alumínio, mas tem que ser
grande, de preferência com aro de 20 polegadas , para que eu a aproveite por
bastante tempo, afinal sei que não conseguiremos comprar uma tão facilmente, as
prioridades da minha família são outras e muito mais essenciais.
Mas esse desejo aí foi antes de ver minha mãe rezando alguns
dias atrás...
Para que o senhor entenda, preciso explicar que moro num
barraco de madeira em cima de um morro, bem perto da escola, eu, minha duas
irmãs, uma de 1 ano e meio e a outra com 3, mais um irmão de 5, e a minha mãe
que nos sustenta através da coleta de recicláveis. O meu pai? Não sei onde ele
anda, sumiu antes da caçula nascer.
Nosso barraco tem um cômodo só, onde minha mãe dorme numa
cama de solteiro com a caçulinha e nós três dormimos num colchão de casal.
Foi numa dessas noites que vi minha mãe rezando ajoelhada em
frente da santinha. Ela pedia que nesse fim de ano conseguíssemos ter uma ceia
de verdade e não o costumeiro arroz com feijão seco. Até aí não tem nenhuma
novidade, ela sempre nos diz que devemos ter esperança e continuar acreditando,
que quando crescermos quem sabe poderemos juntar um bom dinheiro e comprar uma
casa de verdade ou até aumentar o barraco, e que devemos principalmente pedir
isso todos os dias para Deus, em oração antes de dormir.
O que me fez mudar de opinião quanto à bicicleta que eu
queria ganhar foi que, nesse dia em particular, ela rezava chorando e quase não
conseguia dizer as palavras, parecia estar desesperada demais ou desacreditada,
não tenho certeza.
Logo ela que eu nunca vi chorar.
Vê-la assim me fez pensar que tudo aquilo com que estávamos
acostumados, fruto da miséria em que vivíamos não era então uma coisa normal
como ela sempre fez questão que acreditássemos.
É por isso que, ao invés de um presente único para mim, eu
gostaria agora de ganhar algo para toda a minha família, quem sabe um peru
recheado, que eu nem sei que gosto tem, acompanhado por panetones e outras
coisas que são necessárias para essa tal de ceia de Natal.
O senhor me desculpe por ter sido sincero lá no início em
dizer que não acredito que você exista, mas uma coisa eu sei: Deus Existe! Foi
Ele que Me tocou naquela noite que minha mãe estava ajoelhada e me fez ver que
algumas coisas serão sempre mais importantes que outras, e tenho certeza também
que é esse Bom Deus que também toca os vários corações daquelas pessoas que
todos os anos se vestem de vermelho e saem por aí distribuindo presentes e
jogando balas de cima de seus carros enfeitados.
Se o que eu pedi for demais, não tem problema, como eu disse
já estamos acostumados com essa nossa vida e é claro que existem outras pessoas
ainda mais carentes do que nós, por mais que isso me seja impossível de
imaginar. Nós com toda a certeza conseguiremos sobreviver a mais um Natal, pode
ser que existam outros que nem tenham tanta sorte, e sendo assim pode
transferir o meu desejo para eles, sem pensar duas vezes.
Acho que quando eu crescer eu também vou me transformar num
Papai Noel, pois me imaginei um “tantinho” assim no seu lugar e isso me deixou
muito mais feliz...”
A diretora após ler a carta tentou disfarçar de todo jeito
as lágrimas que rolavam pela sua face, mas ao olhar de lado viu a professora
Isabel chorando ainda mais do que ela mesma e se deixou levar pela emoção.
Abraçaram-se e após conseguirem se acalmar um bom tempo depois, decidiram
colocar aquele pedido como prioridade.
Tudo foi arranjado para que na véspera de Natal o Sr. Osmar
fosse visitar a família de Marquinhos, levando consigo uma ceia completa e uma
bela bicicleta azul. Infelizmente, devido a esses acasos que teimam em
acontecer, por volta das 13 horas na véspera o Sr. Osmar veio a falecer de um
infarto fulminante, que dizem ter sido fruto daquela obesidade que já o vinha
acompanhando há bem mais de 10 anos.
Com esse fato, tendo ocorrido muito em cima da hora, todos
os eventos que a escola planejará para o Natal foram automaticamente
cancelados, para tristeza dos professores, principalmente de uma chamada
Isabel.
Quase um ano depois o menino Marcos, agora no segundo ano e
já escrevendo melhor, fez de próprio punho uma nova carta para o Papai Noel que
começava mais ou menos assim:
“Oi seu Papai Noel!
Lembra de mim, é o Marquinhos! Minha mãe lhe manda
lembranças!
Esse ano se não for pedir demais eu gostaria de ganhar um
computador, afinal a bicicleta azul ainda está novinha...”
O Papai Noel pode até falecer, mas Deus existe! Meu abraço.
ResponderExcluirUm tocante Conto!
ResponderExcluirUm feliz 2013 PRA NÓS MEU AMIGO!
Lindo texto! Adorei!
ResponderExcluirMeu carinho!