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segunda-feira, 15 de julho de 2013

Qual praga matou 61.000 e incapacitou 352.000 em 2012? - Mustafá Ali Kanso (atual. 26-07-13)

O artigo abaixo foi escrito pelo escritor, professor, engenheiro químico, empresário da mídia educacional e divulgador científico em programas culturais da TV, Sr. Mustafá Ali Kanso, para o site HypesCience, o qual transcrevo na sua totalidade abaixo, devido a relevância do tema, amplamente abordado por mim todos os dias, sem exceção. Murro em ponta de faca? Não! Esperança...
JGCosta





Qual praga matou 61.000 e incapacitou 352.000 em 2012?
Por Mustafá Ali Kanso em 14.07.2013, às 23h21


Qual é a praga que matou 61.000 pessoas e incapacitou 352. 000 pessoas no Brasil em 2012?
Responda rápido:
Tuberculose? Hepatite? Dengue? Gripe H1N1?
De acordo com o Observatório Nacional de Segurança Viária essa calamidade denomina-se acidente de trânsito.
Isso mesmo!
Só em 2012 foram registradas 61 000 mortes em acidentes de trânsito no Brasil.
E das 508 000 indenizações do DPVAT (seguro obrigatório para Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores Terrestres) tem-se que 352 000 foram destinadas às vítimas com sequelas incapacitantes e permanentes.
Para que tenhamos uma ideia da ordem de grandeza desses números estarrecedores basta entender que a famosa gripe H1N1 levaria 527 anos para provocar o mesmo número de vítimas fatais.
E qual seria o principal fator causador de tantos acidentes no Brasil?
Problemas na pista? Falhas mecânicas? Problemas do clima?
De acordo com pesquisas, a principal causa é a imperícia ao volante, caracterizada principalmente por excesso de velocidade (que pode estar ligada ou não ao uso de bebidas alcóolicas) e outros desrespeitos às leis de trânsito e obviamente aos princípios do bom senso.
É claro que não precisamos consultar nenhuma estatística para confirmarmos esses dados. Basta trafegarmos pelas ruas de qualquer uma de nossas cidades e observarmos quantos motoristas respeitam, por exemplo, o limite de velocidade da pista.
Muitos reclamarão de que tal limite de velocidade é muito baixo, e que nesse mundo moderno tempo é dinheiro, e que existe uma indústria da multa, etc.
Já ouvi essas desculpas quando falei desse assunto em minhas aulas.
No entanto, se uma pessoa possuir o mínimo de educação científica e o mínimo de bom senso sempre respeitará as leis de trânsito.
Por exemplo, um colega de trabalho se vangloriava de fazer em 50 minutos o trajeto de Curitiba até o litoral. Trecho que eu gastava facilmente duas horas.
Revoltado, me perguntou por que da minha lerdeza no trânsito.
Eis a minha resposta:
1. Estou saindo com a família para passear e não para participar de um Rally.
2. Não estão oferecendo nenhum prêmio para quem chegar ao litoral em tempo recorde.
3. Não faço questão de colecionar multas e nem cicatrizes.
4. A minha vida e minha integridade física (e a de todos que me cercam) vale mais que alguns arranhões na minha ficha de super-ultra-hiper-extraordinário-piloto-de-fim-de-semana.
Hoje esse mesmo colega me dá razão.
Porém foram precisos: algumas placas de platina na coluna, alguns dias na UTI e alguns anos numa cadeira de rodas.
Ninguém precisa aprender dessa forma tão cruel que as leis da Física não podem ser desrespeitadas impunemente. Basta atentar para esses fatos:
- Dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo.
- Quanto maior for a velocidade de um corpo maior será sua energia cinética.
- Numa colisão a energia cinética é transformada principalmente em deformação (tanto do veículo quanto de seus ocupantes).
- Numa colisão envolvendo aço, plástico, osso e carne – o aço ganha sempre.
Isso me soa de uma obviedade…
Tirando o Facebook onde só existem pessoas maravilhosas, politicamente corretas e que sempre respeitam as leis, estou farto de ver todos os dias pessoas se portando no trânsito como se fossem selvagens.
Desde o desrespeito absurdo às regras da boa conduta – essa ética que deve premiar a verdadeira convivência humana, como, por exemplo, a de dar a vez às pessoas idosas e às crianças.
Alguns devem achar idiotice. Pois vejo todos os dias, pessoas bem vestidas, pilotando bólidos caríssimos avançando por sobre pedestres, buzinando, agredindo verbalmente, sejam velhos, mulheres ou crianças.
E sempre se justificando: Tem que “tacar” o carro em cima mesmo, pois o pedestre é muito mal educado.
Ou seja, como em toda selva vale a lei do mais forte e salve-se quem puder.
Será que ninguém pode ceder alguns segundos e franquear a passagem para o semelhante? Será?
O que ocorre com a mente e com o coração dessas pessoas, que basta segurar um volante que se transformam em homicidas em potencial?
Porém as leis da Física não podem ser desrespeitadas impunemente:
Quantos engavetamentos ocorrem simplesmente porque a maioria dos motoristas dirige praticamente colado no carro da frente. Contrário ao que reza a lei. Contrário a qualquer noção de bom senso. Por quê? Alguém pode me explicar isso?
Nas rodovias o quadro piora.
Todos andam a mil por hora, colados no carro da frente, para marcar pressão e força-lo a dar passagem. Tanto um quanto o outro travam uma queda de braço motorizada, onde buzinas e palavrões em mímicas fazem parte do belíssimo exemplo de estupidez que dão aos demais. Tudo isso, acima dos limites de velocidade da pista – para quê? Para chegar alguns minutos mais cedo no engarrafamento mais próximo?
E por que tanta pressa?
Ambulâncias carregam luzes e sirenes e você meu caro motorista, qual cirurgia de emergência você vai fazer na praia?
Não é raro ver que o mesmo motorista que corta, buzina, fecha e acelera como um endoidecido é o mesmo que para em cafés à beira da estrada e gasta uma eternidade na escolha de qual lanche e qual refrigerante vai consumir. E fica de papo furado, tomando cafezinho, fumando, etc. –  para depois sair em disparada mais uma vez – desrespeitando tudo e a todos.
Por que tanta pressa na estrada se na sorveteria o bate papo é em slow motion?
Um colega químico tem uma teoria bastante cruel:
- Talvez a humanidade vá descobrir no futuro que tudo isso tem a ver com a seleção natural. Os imbecis vão diminuindo em número devido à forma estúpida de como se conduzem nas estradas.
O triste é saber que muitos inocentes são levados juntos nessa brincadeira.
Em meu entendimento esses dados se referem, na verdade,  a um dos sintomas da ação de uma das maiores pragas que pode assolar a humanidade – que é a ignorância.
Não é coincidência que o Brasil que é um dos primeiros países do mundo em acidentes de trânsito seja o penúltimo lugar na qualidade da educação que oferece a seu povo.

E você leitor, qual a sua opinião?

3 comentários:

  1. A mais pura verdade! vou trabalhar todos os dias de moto e os motoristas de carros e caminhões simplesmente me ignoram e invadem a faixa destinada a mim, como se ninguém não estivesse vindo. isso é triste, mas infelizmente é a nossa realidade, o que podemos fazer?

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  2. Compartilhando com os amigos minha resposta ao texto, no site da HipesCiencie:

    Bom dia!

    Em 2011 foi nos informado que cerca de 43 mil brasileiros faleceram em decorrência de acidentes de trânsito. Em nossas palestras sobre educação de trânsito, sempre alertamos que esse número com toda a certeza do mundo era superior, por uma questão muito simples: quantos Órgãos de trânsito dentro das três esferas fazem um acompanhamento das ocorrências, após o fato?
    Creio então que a divulgação agora de 61 mil pessoas só pode ser considerada por mim como uma triste constatação.
    Quando comecei a trabalhar com trânsito a mais de 15 anos atrás, como Agente de Trânsito (por opção) formulei o seguinte pensamento: a Educação de Trânsito independe da educação do indivíduo, aquela estruturada pelo ensino comum e pelos pais.
    Contudo, anos depois, percebi que de fato, como concluiu o professor Mustafá, existe uma conexão visível entre os dois eixos, mas que, contudo, a meu ver, não é expressada pela falta da educação fundamental das pessoas, aquela adquirida nas escolas, mas fundamentalmente aquele tipo de educação que provém do berço, aquela essência responsável pela formação do nosso caráter.
    Estou, digamos, enfatizando esse detalhe, ainda sem uma boa base de dados estatísticos nem da minha pequena cidade, mas, que pelos exemplos que todos acompanhamos, seja pela imprensa ou na pele mesmo, acaba dando essa impressão. Obviamente que a falta do conhecimento básico incorre num desrespeito maior às regras, em todos os campos, e quando sair (se já não saiu) um amplo levantamento estatístico do perfil de nossas vítimas fatais em decorrência dos acidentes de trânsito, e o melhor e mais difícil de conseguir, o perfil do causador em potencial destes acidentes, devido ao claro desequilíbrio cultural existente no nosso país, mas um refinamento dessa informação, proporcionalmente, talvez nos traga uma triste surpresa, talvez outra triste constatação. Abraços. JGCosta

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  3. Parabéns, meu caro Joel G Costa pelo excelente texto postado. Tem mesmo que bater nesta tecla sempre, a vida humana nos dias de hoje estão muito banalizada.
    Um grande abraço
    Lucas Durand

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