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segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

1995



Todo mundo que ama o país em que vive um dia sonha com mudanças, radicais ou comuns, para que se tenha a sensação de estar vivendo numa sociedade mais justa e humana, onde de fato as diferenças sociais sejam mínimas e onde também a corrupção seja tratada como uma alguma coisa ruim que existiu, mas que foi arrancada de nosso meio, tipo uma erva daninha.
Eu me enquadro nessa classe que ama e sonha desde que era um adolescente, e um dia um grande projeto se formou em minha mente, o qual transformei num livro.
O ano era 1995 e eu tinha um amigo em meu trabalho que compartilhava dos mesmos sonhos que eu. Na época eu era um torneiro mecânico oficial, função que o nosso atual presidente um dia exerceu, e nos intervalos discutíamos o que poderia ser feito para que uma grande mudança pudesse ser operada em nosso país.
Um dia esse amigo me perguntou por que eu não criava uma história de um grupo que tomava o poder e na mesma hora vi um enredo se formando em minha mente, onde imediatamente rabisquei num papel de rascunho os títulos dos capítulos e por fim o do possível livro. Foi algo surpreendente o que aconteceu! Em questão de segundos eu já tinha todo um roteiro para escrever.
Trabalhei no livro por meses e duzentas e cinquenta páginas de Word depois ele estava pronto, mas após lê-lo e relê-lo por duas vezes, o destruí por inteiro sem pensar duas vezes, tanto o original quanto os documentos digitados em meu PC. Isso sem ninguém jamais o ler também, somente eu criei e no tempo que ele levou para ser produzido em minha mente, ele também foi totalmente “deletado” de lá.
Parece óbvio que uma explicação se faz necessária, afinal eu não sou o tipo de pessoa que sai pelas ruas rasgando dinheiro ou falando com pessoas invisíveis. E até a simples idéia de ter queimado tantos neurônios em vão também não me agrada.
Mas para que entendam os meus porquês, um pouco do roteiro deste livro, que tinha como título “Os alienados”, tem que ser descrito.
Ele tratava da história de um escritor que, cansado da situação em que seu amado país vivia, resolveu fazer algo. Como o que fazia de melhor era escrever, então usou desta ferramenta.
Acabou este protagonista escrevendo um livro que se chamava O.A.G. – Organização Através da Guerra, onde um grupo de civis começaram a praticar ataques contra o governo através de assassinatos e acabaram tomando o poder.
No enredo este escritor termina o livro, o lança e acaba virando um sucesso. O que ele não esperava era que o seu livro inspirasse a formação de um grupo real que usava os seus escritos como base para os constantes ataques que iniciaram contra os que estavam no poder.
Creio que já deixei bem claro o conteúdo principal deste finado livro.
E o que me motivou então a destruí-lo? – Alguns podem estar perguntando enquanto outros já entenderam.
Para os que não entenderam, a resposta é simples: ao ler todo o trabalho de meses eu me pus no lugar do meu protagonista e fiquei pensando o que eu sentiria se meu livro realmente viesse a vingar ao ser publicado e se de fato inspirasse as pessoas a tomar atitudes. Era difícil imaginar como é que eu reagiria ao me deparar com as conseqüências desses possíveis atos.
Fiquei com medo, vou admitir!
Mas não o tipo de medo que alguns podem estar imaginando. Não o receio de ser preso, de ser considerado um agitador anarquista, ou por tabela um assassino, não esse tipo de medo que eu exalava!
O meu receio maior era enfim ir contra tudo aquilo que eu acredito e que se chama amor!
Não creio que consigamos nada de concreto se ao invés de armas não nos utilizarmos de amor incondicional, tentando inspirar nas pessoas todo um sentimento de mudanças sim, mas jamais, nunca, através da destruição!
Todos os lamentáveis exemplos que temos do passado e alguns ocorrendo no presente comprovam o que estou afirmando: se não nos utilizarmos das ações corretas, se não conseguirmos conquistar as pessoas pelos motivos certos ou ainda se não conseguirmos inspirar as pessoas com nossas boas idéias e ações, acabaremos fazendo muito e no fim chegaremos ao mesmo lugar, sem nada de concreto para se vangloriar.
Que necessitamos de mudanças urgentes de todos os mais variados tipos, isso é fato! O maior exemplo é nas legislações, para que não contenham tantas margens de erro visando beneficiar somente o topo da pirâmide social, angustiadamente carregada pela maioria dos brasileiros todos os dias. Os legisladores então devem ser pessoas que tem a mesma visão que nós: a busca por um país mais justo!
Decorrerão anos para que um sonho assim possa ao menos correr o risco de se tornar realidade, pois infelizmente o que existe hoje é sistema acorrentado, desde os menores municípios até o Distrito Federal, que busca discaradamente beneficiar primeiro a si próprio, depois os demais envolvidos.
Obviamente que existem ótimas células nesse meio ambiente político, mas o sistema que citei acima é digno de uma Microsoft, prima por não cometer erros e quando estes acontecem à sociedade recebe simplesmente a mensagem “Ocorreu um erro fatal e o sistema será reiniciado!”
Não pensem que estou brincando, é exatamente assim que acontece.
Mas nem por isso eu creio que devemos deixar de acreditar ou, sem alternativas, passar a fazer parte de uma corrente que não trás soluções para a maioria, até porque é claro como a água a meu ver que estamos rumando atualmente para um precipício, e nem adianta mais fingir que os sinais não são evidentes. Basta abrir um pouco os olhos ou refinar a audição e veremos que os sinais são claros: a crescente violência, o domínio do narcotráfico embasado no crime organizado e alguns grupos surgindo e tentando agir de formas que eu quase acabei por tentar inspirar.
Se gostarem um pouco de história e fizerem algumas comparações com o que está acontecendo hoje no Brasil, verão que o passo seguinte que poderá ocorrer é guerra civil, repito, infelizmente! Podemos os quarentões escapar de uma fase similar a esta que citei, mas e nossos filhos e netos, será que vão ter alguma escolha, a mesma que ainda temos apesar de ser comparada a uma sensível linha de algodão?
Creio então para finalizar que em 1995 eu acabei agindo da forma correta, uma vez que meu lema sempre foi esse:
“Num mundo onde a guerra e a dor sempre falharam, o amor continuará sendo a melhor e única solução!”


11 de janeiro de 2010.