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quarta-feira, 17 de outubro de 2012

O cachecol




Sempre tive um desejo danado de conhecer a capital São Paulo e a oportunidade veio em 1988, quando decidi vender uma moto.
Esta era novinha em folha, uma “belezura”, mas lá para o fundão de Minas onde eu morava, local cheio de morros e somente estradas de terra, me contaram que iria acabar com ela rapidinho, então se eu a vendesse daria para comprar um carrinho velho e ainda sobrava dinheiro para acertar a documentação.
Minha moto chamava tanto a atenção que tinha pensado em colocá-la no seguro, porém como decidi tentar vendê-la no domingo, resolvi esperar um pouco.
Lembro que quando cheguei a São Paulo estava um frio de arder, era final de junho e as pessoas que andavam nas ruas estavam todas muito agasalhadas. Fui direto a uma feira de automóveis que acontecia lá no Anhembi, seguindo o conselho de vários amigos que já haviam feito bons negócios por lá.
Ao entrar no local, recebi a sabatina do responsável pelo Feirão do Automóvel, falando muitas coisas sobre a questão da segurança. Uma das dicas foi de não sair da feira com um possível comprador. Para falar a verdade, não dei muita bola para esses exageros, creio que ele pensou que estava falando com algum bobão, só por causa do meu sotaque arrastado. O que ele não sabia é que o mineiro é uma raça esperta pra “daná uai”, dificilmente alguém lhe passa perna.
Lá dentro, deixei minha moto num canto bem iluminado, com o meu nome e endereço grudado no tanque. Várias pessoas passaram e deram uma olhada na minha belezinha, e teve um rapaz que devia estar com muito frio, pois usava um grosso cachecol, que ficou por uns 10 minutos rodeando a bichinha. Depois de um tempo ele disse que ia dar mais uma olhada no salão, mas que a minha moto era muito boa. Já fiquei esperançoso uai! E não é que ele voltou uns 15 minutos depois e foi abrindo o negócio:
- Olha meu amigo, quero comprar a sua moto, só que quem vai pagar é o meu pai! O moço não poderia me levar até lá em casa pra pegar o dinheiro?
Não titubeei! Mais que rápido subimos na “formozura” e saímos. Ele devia ser meio afeminado, pois enquanto eu pilotava senti que ele passava a mão pela minha cintura, o troço estranho sô! Ao parar no farol, graças a Deus, ele me pediu para ir pilotando, assim ia testando a moto pra ver se o motor estava bom. Rapidinho troquei de lugar com ele e pra não deixar dúvidas de que sou um caipira macho, grudei na rabeira da moto. Entramos numa larga avenida, onde tem um rio fedido e quando bato o olho, vi o cachecol dele voando. Ele encostou a minha belezinha e disse: - Você pega lá pra mim? Está frio! - Desci da moto e retornei, e só parei com o barulho da minha moto acelerando, quando me virei o moço já ia embora.
Voltei pra Minas, sem moto, mas com um belo de um cachecol enrolado no pescoço, que o burrão do comprador, na pressa de chegar a sua casa e me pagar, deixou pra trás! Gozado que isso já faz 24 anos, acho que ele perdeu o meu endereço, mas se demorar mais uns dois anos vou correr atrás dos meus direitos sô...

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Esse conto foi inspirado numa história real.

Abraços renovados para todos!

9 comentários:

  1. JG, rí muito! Obrigada por esta gostosura de texto.

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  2. Que pesadelo, hein!? De uma moto para um cachecol... ficou bem enrolado o mineirinho! uai...
    Abraço, Célia.

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  3. rssssss...Muito legal,Joel! abração,chica

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  4. Ele ainda deve estar com ela, fazendo manobras pelas ruas de São Paulo. Você ainda lembra da placa?
    Abraços, poeta!

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  5. Gostei! Divertido na medida certa. Abraços.

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  6. Hahahahahahahahaha puxa Joe! Que dó hein! Uma pena mesmo.

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  7. Ei, hahahahahaha eu ainda estou no top 10 comentaristas aqui! Hahahahaha, me perdoe pois estou em falta demais com você!

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