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sexta-feira, 24 de junho de 2011

O menino de um olho só

Demorei um pouco meus amigos para fazer a minha participação desse mês no blog Fábrica das Letras, cujo selo para acesso se encontra abaixo, mas é por pura falta de tempo, não de imaginação!

Aproveito para pedir desculpas aos amigos pelo meu constante sumiço nessas últimas semanas, pois eu que antes tinha o nome de Trabalho, sobrenome Mentiroso, eis que tive de mudar no cartório para Trabalho Sempre!

Tema: Os problemas resolvem-se à chapada

 



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O menino de um olho só

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Outro dia bem cedinho
Vinha andando pelo caminho
E encontrei um menininho
Que me pediu com jeitinho
Para lhe dar o que comer
E pra acompanhar algo para beber
E uns trocados para o lazer
Ele dizia merecer

O examinei por inteiro
Antes de dar algum dinheiro
Podia ser fato verdadeiro
Ou golpe aplicado por matreiro
Ainda assim fui atrevido
Perguntei se estava perdido
Ele me olhou com um ar tímido
Disse na rua sempre ter vivido

-- Moro ali perto da estação
-- Meu companheiro é um velho cão
-- Não ligue para minha situação
-- Só me dê um pedaço de pão
-- Agora se não for muito um guaraná
-- Já que seu gosto eu quero lembrar
-- E vai ajudar o pão empurrar
-- Se tiver recheio vai melhorar

E depois dessa contenda
Reparei que usava uma venda
Que não parecia ser uma prenda
Quis perguntar sem uma ofenda
-- Que é isso que trás no rosto
-- Parece colado, me dá um desgosto
-- Não liga não homem, seu moço
-- Esse é um presente de um fim de agosto

-- Eu quis roubar uma bolsa na praça
-- No desespero de comer de graça
-- Fui pego e ainda por desgraça
-- Ganhei uma surra de pirraça
-- E o resultado podia ser pior
-- Apenas virei um menino de um olho só
-- Mas aproveito agora para causar dó
-- No mundo que passa ao meu redor

-- É fácil me verem como coitado
-- É claro que me tem por viciado
-- Estou de sujeira até o pescoço lambuzado
-- Vivo rondando os mercados
-- Mas sobrevivo graças ao Homem
-- Vou indo em frente passando fome
-- E o meu defeito quase que some
-- Quem liga para um ser que na rua dorme?

-- Não foi por isso que o senhor parou?
-- Quando no lugar de um olho um buraco notou?
-- Isso faz parte do meu show
-- Isso faz parte do que eu sou!
Pensei um pouco antes de responder
Afinal ele do mundo parecia saber
Sua inteligência era algo que dava prazer
Palavras sábias nem todos sabem dizer

-- Pelo seu olho que falta eu não parei não
-- Nem tinha reparado nessa sua disfunção
-- Só queria fazer uma boa ação
-- E creio que você é uma boa opção
-- Que tal deixar essa vida de rua?
-- E procurar um teto além da lua?
-- É esperto e boas palavras saem da boca sua
-- Nem me parece alguém que só tumultua

-- Mas me senhor, pensa que isso é fácil
-- Quem vai querer um caolho como capacho
-- Prefiro viver na rua a um esculacho
-- De onde estou não posso ir mais abaixo
-- Então que venha com seu cão ser meu criado
-- Mas vai ser bem mais que um empregado
-- Pois escravidão é coisa do passado
-- Eu chamo de família quem mora ao lado

E assim veio um e agora voltam dois
Um pai e um filho vão dizer depois
Foi obra do destino que se impôs?
Ou a mão do homem que a compôs?
Mesmo a resposta eu não tendo certeza
No fim dessa história só vejo a beleza
O que importa é que se diminuiu a tristeza
Que assola o mundo a bordo da avareza

12 comentários:

  1. Noooooossa,tua inspiração foi demais,Joel! És muito bom nessa arte da escrita! Lindo! abração,chica

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  2. Desfilou talento e imaginação, poeta!Que delícia de leitura! Abração.

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  3. Meus aplausos mano, Que Deus te ilumine sempre para continuares a nos brindar com tão belas histórias em versos. Um grande abraço de energia. Gildo Oliveira

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  4. Caraca! Você é um escritor nato, nato! Se um dia tiveres um livro, quero deixá-lo na minha cabeceira ao lado da cama para todo dia de noite refletir sobre o que na vida anda. Nem sei por que estou escrevendo rimando agora, foi a sua inspiração que pegou em mim! rs Parabéns pelo texto, dos que escreves, eu me tornei fã em especial deste. Um dia o publico no blog, apresentando aos meus leitores teu trabalho !

    Grande abraço.

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  5. Muito bom. Gostei da prosa e da história.
    beijo

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  6. Sua criatividade fêz um belo trabalho com a sua inspiração. Adorei, como adoro seus textos, também.

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  7. Perfeito, Joel!

    A arte das palavras deixou a realidade bruta em segundo plano. Quantas vezes muitos passam por tantos 'meninos' e não têm tempo de parar para olhar e conversar e assim perdem a oportunidade de aprender um pouco mais da vida.
    De tudo fica a lição: o que vale é o amor e o respeito pelo próximo.

    Forte abraço, amigo!

    Deus é contigo

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  8. Dedmais, caro Joe. Além de bem rimado, ritmado, u mtexto que msotra algumas duras realidades. A que todsos sabem, de meninos de rua, e a outra,mais que isso, fácil julgar quando a gente não está na pele do outro. Parabéns. Um abraço.

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  9. Olá,
    Gostei de encontrar nesse Tema algo mais delicado... nem tudo se resolve à chapada... até discorrer sobre o assunto... Muito boa a sua participação!!!
    Abraços fraternos de paz

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  10. Lindo e maravilhoso, Joe! Como sempre, aliás...
    É sempre um prazer vir ler as suas publicações e aprender uma nova sensibilidade com elas!

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  11. Parabéns, Joel, pela inspiração! Vale sempre lembrar à humanidade que quando a gente está, a gente está. Traduzindo: quando nós somos a bola da vez, não devemos pular. Afinal criar um garoto, quem pode só usa 18 anos de dedicação, no máximo, coisa que passa rápido diante do benefício que faz. Meu abraço.

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