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segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Me faz um favor?




O homem andava só!
Não pensava em nada importante, somente seguia seu caminho.
Parou num bar para tomar um refresco à beira da estrada, num fim de mundo em meio ao sertão. Estava quente e suava as bicas!
Um estranho se aproximou e ele pensou: lá vem mais um me pedir dinheiro. Ó pobreza que assola o povo brasileiro!
Mas estava enganado, pois o moço somente lhe pediu um favor, que entregasse uma carta caso encontrasse uma pessoa que ele muito amou e se fora repentinamente.
Apesar do estranho pedido o homem não se negou, guardou o envelope com seus documentos e partiu. Havia dito o moço que se tratava de uma mulher pequena, de olhos e cabelos claros, mas a pele morena pelo sol da labuta.
O homem pensou que encontraria milhares de mulheres assim, mas o moço disse também que ela mancava de uma perna e tinha nome de flor: Jasmim!
Após mais dois dias seguindo na estrada o homem num motel "ancorou". Durante a madrugada acordou assustado e sem nada para fazer, leu a carta que o moço lhe deu.
Esta dizia aquelas coisas comuns, de amor e saudades que ele tinha e esperanças de a ter de volta um dia. Mas apesar da simplicidade das palavras rabiscadas em apenas uma folha de caderno espiral, o homem se emocionou. Não era muito de ligar para paixões, mas cada palavra do moço decorou. E assim o sono voltou.
Depois de mais uns dias na estrada um acidente o homem sofreu, quando um caminhão de frente com seu carro colidiu. Ficou preso às ferragens e não resistiu ao demorado resgate e acabou desmaiando.
As dores que sentia de repente sumiram e ao abrir os olhos se viu num enorme campo vazio. Não era só verde o descampado, parecia uma enorme plantação de algodão, pois muito de um branco encobria o chão.
Viu pessoas a deriva andando de um lado para o outro, mas mesmo à distância uma delas lhe chamou a atenção. Vinha puxando uma perna e um vestidinho surrado cobria seu pequeno corpo.
O homem caminhou em sua direção e instintivamente chamou: Jasmim!
Ela parou assustada e o esperou calmamente, sorrindo. Antes que o homem abrisse novamente a boca ela lhe perguntou se ele trazia uma mensagem para ela.
O homem recitou as palavras decoradas da carta recebida do moço e não ficou espantado com a mulher que desaparecia lentamente enquanto ele ia terminando o pedido.
Antes que ela desaparecesse ainda ouviu um abafado obrigado. Nem se deu conta que ele também desaparecia. E em sua volta surgiu lentamente, como que desenhado, o belo e branco traçado de um hospital.
Achou o homem ter sonhado, mas dois motivos lhe disseram que não, assim que deixou o hospital uma semana depois. Junto aos seus pertences a carta do moço não foi mais encontrada e um carro novo o aguardava do lado de fora com um bilhete preso junto às chaves, escrito em letras simples:
- Obrigado pelo favor, Jasmim do coma acordou!
E o homem que andava só agora sorriu.

3 comentários:

  1. Joe, que texto emocionante! Vivi cada instante com a intensidade que a narração impoem,
    esta sua forma de escrever é cativante,
    muito bom!

    Abraços e votos de 2011 cheio de um boa colheita, que não lhe falte inspiração para escrever ótimos textos como este daqui!

    Abrços,
    Ester.

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  2. Muito bom ler isso,amigo Joe.Bom mesmo.Um abração

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  3. Oi Joe, que texto lindo e emocionante. Realismo fantástico ou seria espiritualismo mágico? Bonito mesmo, seria tão bom se na vida real tb fosse assim....beijos,

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