JGCosta
Fonte: Revista Escola
Dois inválidos, bem velhinhos, esquecidos numa cela de
asilo.
Ao lado da janela, retorcendo os aleijões e esticando a
cabeça, apenas um consegue espiar lá fora.
Junto à porta, no fundo da cama, para o outro é a parede
úmida, o crucifixo negro, as moscas no fio de luz. Com inveja, pergunta o que
acontece. Deslumbrado, anuncia o primeiro:
- Um cachorro ergue a perninha no poste.
Mais tarde:
- Uma menina de vestido branco pulando corda.
Ou ainda:
- Agora é um enterro de luxo.
Sem nada ver, o amigo remorde-se no seu canto. O mais velho
acaba morrendo, para alegria do segundo, instalado afinal debaixo da janela.
Não dorme, antegozando a manhã. O outro, maldito, lhe
roubara todo esse tempo o circo mágico do cachorro, da menina, do enterro de
rico.
Cochila um instante - é dia. Senta-se na cama,
com dores espicha o pescoço: no beco, muros em ruína, um monte de lixo.
Boa noite.
ResponderExcluirTraz-nos uma grande lição o final desta história.